‘As coisas talvez melhorem.
São tão fortes as coisas.
Mas eu não sou as coisas e me revolto.
Tenho palavras em mim buscando canal,
são roucas e duras, irritadas, enérgicas,
comprimidas há tanto tempo,
perderam o sentido, apenas querem explodir’.
Carlos Drummond de Andrade
Hoje a saudade é qualquer coisa vagando entre a música no volume baixo e um sentimento amargo. Tem o tamanho do nosso quarto escuro e sujo. Feito sob medida para o vazio instalado entre teu arrependimento e o meu telefone mudo.
Hoje, meu amor, a saudade é qualquer coisa pairando entre mil tentivas de te resistir. É o nosso presente apressadinho, que virou passado antes do tempo e a gente nem viu. Serão sempre as letras daquela história que deixamos pela metade e que engavetamos antes de alguém ler.
Mas hoje a saudade, embora insistente, morre assim lentamente. Enquanto a vida teima em não parar, ela pega outra rua, segue teus passos que vão longe e toma outra direção.
Hoje, a saudade dorme embalada por todas aquelas palavras que eu nunca disse e mesmo assim tu deduziste. Mas só por hoje. Amanhã, eu espero que ela não volte mais.