‘- Você aconselharia alguém a ser escritor?
– me perguntou um estudante.
– Tá querendo me gozar? – retruquei.
– Não, não, falo sério.
Aconselharia, como carreira?
– Escritor já nasce feito,
não é conselho que vai resolver’.
Charles Bukowski
Detesto escrita fácil, essas letras autônomas
e essas frases que já nascem caminhando sozinhas,
donas de si e tudo mais.
Não gosto mesmo! Texto tem que doer.
Tem que passar por mim deixando rastros,
lascos e outros pedaços.
Tentar ser, antes de qualquer coisa,
coerente com as minhas faltas
e só depois articular qualquer coesão
com as exigências lá fora.
Coisa triste esses poemas e contos que nascem em silêncio,
sem o menor escândalo e esperneios.
Melhor seria se tivessem batido em outras portas
e brotado em outras digitais, não aqui.
Escrever sentindo ameniza meu todo incompleto.
É como se as palavras me convidassem pra entrar,
pra fazer parte, e eu já nem me sinto só.
Texto pronto é abusivo,
tão maldito quanto o amor que
causam em ti sem que tu consigas
causar em troca. Porque são deles
a péssima mania de nos negar a experiência,
o rito, as cores, as dores e a própria existência.
Me identifico de citação a linhas.