
Tu bem sabes que por aqueles dias a gente já não se fazia mais tanta questão assim, não é? Mas não foi só isso, nossos desinteresses não pararam por aí, foram mais longe que a nossa boa vontade permitiu. E quando dei por mim, a tua música preferida já não me fazia mais efeito. Eu já não tentava dançar nem tirar os pés do chão, veja só. Eu havia perdido o ritmo, a harmonia, a cadência. Eu não conseguia mais te acompanhar.
Quando tentei te tomar em doses ainda maiores, fui todo anestesia. Tudo era silêncio, descompasso e pretérito imperfeito. E os desejos que tu me emprestaste, mandei devolver. Desocupei o guarda-roupa, o bagageiro do carro e os nossos porta-retratos sorridentes da cabeceira escondi. Queimei teus livros com as faíscas dos meus remorsos e não te consultei. Meus sentimentos por ti desequilibraram-se e caíram todos no esquecimento. Acabou o sentido e um mundo inteiro de considerações. Perdemo-nos para nós mesmos.
(Esse texto eu fiz em parceria com o menino Matheus Caravina, lá de São Paulo, que adora esconder o jogo, mas escreve lindamente aqui)
Esperando ansiosamente esse tempo também chegar pra mim