‘É melhor que caminhar vazio’.
Peninha
Minha saudade veste tua cor preferida. Combina mais do que deve com teu estilo e com o tom do teu cabelo. Anda por aí feito louca, desvairada, querendo teu cheiro, teu desleixo e o máximo de satisfações que tua ausência pode dar. E só pra mim, confessa baixinho que ainda ama quando tu te importas. Ela calça teu número, decifra teus rabiscos, vive a se impregnar de manias que te pertencem e de hábitos teus espalhados pela casa.
Como se não bastasse, vaga pela rua enxergando teu nome em tudo quanto é canto. Tudo quanto é coincidência. E vem correndo me chamar pra me mostrar, querendo me provar, a todo custo, que tua morte é ilusão. Desde que tu te foste, nunca esqueceu teu endereço e teu telefone ainda sabe de cor. Dança sozinha conforme teu ritmo. Imita teu humor. Age igualzinho. E ainda tem a audácia de por ti me prometer que vais voltar.
Eu que não sou louco (finjo que) nem ouço. Não repito o passo, que é pra nem entrar na dança. Ensaio outras saudades, dito outros textos. E perambulo entre corpos que não deixam a desejar. Fingindo que nada ouço. Que não te ouço. Que nada sinto!
Que lindo!