
A gente idealiza tanto que chega a ter pra cada situação uma reação. Dos passos às palavras, exatamente tudo. A entonação dos risos. O encaixe dos abraços. A intensidade dos amassos. O coração mal sente e a cabeça já propõe. Pressa idiota! Agonia desesperadora! Burrice involuntária!
Recorta os melhores textos. Separa sentimentos em pedaços, em retalhos, em parágrafos. Com as melhores cores enfeita as palavras, seus sinônimos, adjetivos. Cuidadosamente, pinta, colore, formata. E ensaia ao outro entregar.
Tateia o futuro e o sente tão real. Projeta expectativas e injeta nelas tanta verdade, tanto desejo, tanto amor. Mas o faz calado. Na melhor das intenções, claro. Mas em silêncio. E conjuga a dois uma esperança egoísta, extremamente só. E por ambos sente sozinho. Peca por fazer do outro agente passivo de tudo aquilo que solitariamente planeja.
E pensa que vai viver conforme escreveu. Chega a supor que vai ser feliz da maneira que sonhou. Mas não. Lógico que não. Feito papel, vem o vento, vem o tempo, sopra a vida e leva tudo.
Tão estranho, impessoal. E só no fim a gente se dá conta que de metáfora nunca passou. Teu mundinho não é meu, meu futuro nunca foi teu. Nem desejo nem amor. O outro nunca existiu.