Naquela hora que te olhei, o teu pedido de socorro foi o que mais esperei. O teu grito ensurdecedor eu desejei, perdido ali, sobre a cama feita, inundado nos teus mistérios, coberto por retalhos de um tempo passado e de um amor roubado, sabe Deus quando, por que e por quem. Mas você o que fez? Vestiu-se de um silêncio absurdo, massacrante. Eu diria, constrangedor.
Meus dias foram testemunhas do quanto tentei, feito brinquedo novo, os teus apelos manusear, com cuidado especial de quem um dia percorreu teus labirintos e quis com fiel interesse te estudar. Quantas tentativas vãs e desesperadas de te arrancar todas nossas palavras, todos nossos diálogos, outrora evitados, e as vezes em que pudemos ser felizes, mas a omissão não deixou.
Mil e uma reações, incansavelmente, ensaiei. Eu estava disposto, não duvide você, a topar qualquer negociação, a te pedir perdão, por ti outra vez me apaixonar. Mas o teu calar parecia tão decidido, tão mudo era aquele teu sentimento bobo, virado pra janela com a cara de quem pouco culpado era de tudo que aconteceu.
Cogitei te ler, te abraçar com todo meu comprometimento, com o melhor das minhas compreensões. Quis com as minhas mãos te arrancar palavra por palavra, intenção por intenção, mas não achei o fio nem desejo algum de todos aqueles que um dia nos entrelaçou.
Eu me aproximei pra ouvir, quem sabe, o teu sussurrar, cheguei perto pra te pedir de volta nossa velha vida, nossa comunhão cega, de um quarto escuro, vigiado pela obsessão de pernas, mãos e braços quentes. Cheguei a desenhar entre linhas uma prece que rogava por um beijo teu.
Gritei por ti, roubei tua vez. Falei pelos cotovelos, pelos pulsos e artérias. Berrei com todos os gestos e com a tua voz, mas tua boca faltou. Você não foi ouvido, não me emprestou sequer tua atenção. Me abracei feito tolo com o nada. Senti por dentro o vazio. Do lado de fora, não era eu, era você, era frio, eu te amei calado, era o nosso fim.
(A foto, eu peguei sem permissão do Flickr do Dalmaso)
não conheço ninguém que trabalhe as metáforas melhor que vc.raro hoje alguém escrever tão bem, com técnica e emoção. até copiei o texto.
qrendo nos fazer chorar, menino petterson?