Processo o disforme, o confuso e dou a eles o exato primor. Clareio o(s) sentido(s), o vivido, o não-dito, o não-escrito. E com as palavras eu brinco. Dou vida aos devaneios e formato aos sonhos. Das figuras e metáforas, uso e abuso. Procuro expressões, imperativos e verbos. Tiro. Boto. Tiro. Boto. Num vai-e-vem que não ter fim. Misturo tudo e do avesso eu viro. Rearranjo e sigo. Distribuo em palavras, orações e períodos, mais do que qualquer outra coisa, o que carrego aqui, dentro de mim.
Dito. Repito. Ecoo. Reproduzo o estado de espírito. De corpo. Da alma. Desenho letras. Vida elas recebem para falarem por mim. E no fim, a rima produzida, mais que sonora, soa vital, pessoal, intransferível e divaga na frequência do abstrato, do que pulsa, do que nunca deixou de ser. Sentimentos, sensações: convergência. Metalinguagem e poesia: tudo uma coisa só.
(Ilustração do Tobias Fonseca)